So Beautiful Pain...

Não havia dia naquele lugar. Alby já havia deixado de ligar para tal fato á muito tempo. Observava as Quatro Esferas após ter acabado de fugir daquele maldito local. O frio do vento gélido cortava sua pele e trazia de volta a dor de velhas feridas de batalha. Estava ali, empoleirado em uma enorme estalagmite que crescia em diagonal na geleira. Os braços apoiados de forma desleixada e preguiçosa nos joelhos enquanto meus olhos seguiam pela imensidão branca. Ele havia conseguido. Mas tinha um mal pressentimento. Ele se lembrava de seus últimos momentos. A lança atravessando o estômago da jovem moça. Piscou para afastar as lembranças e olhou para baixo. Um pouco abaixo de seu lugar, um rapaz caminhava apressado. Outra alma fugindo? Ele ainda não notara a presença de Albiron. O garoto se estreitou para manter-se oculto.

A onda de poder o atingiu em cheio. Mesmo naquele lugar, no interior de um enorme lago congelado, uma onda de calor o engoliu. A estalagmite na qual se apoiava começara á derreter ligeiramente. Ele deu um sorriso e antes que caísse saltou para outra, e desta ultima para mais uma, e seguiu repetindo isto até estar mais á baixo. Quando notou estava cara a cara com duas figuras: uma delas era um rapaz ruivo... E a outra era o senhor supremo do Mundo dos Mortos. Hades realmente parecia de bom humor. De imediato notou que havia algo errado. O deus lhes pediu um motivo para deixá-los vivos. De imediato Albiron entendeu o que acontecia.
- Ora, ora! - murmurou. - Creio que o motivo seja o senhor mesmo, meu senhor. Acho que precisa de algo de nós. Afinal, caso contrário mandaria algum de seus Espectros atrás de nossas cabeças... Mas aparecer pessoalmente... Imagino que queira nossa ajuda, mesmo que não precise realmente.
Sentou-se no gelo em pernas de índio aguardando as próximas ações com demasia. O senhor do inferno não se daria ao luxo de ir á presença de meras almas penadas sem um motivo digno para estar na presença de seres tão inferiores á sua majestade.

- Obrigado por ligar o aquecedor, meu senhor, agradeço a gentileza.
Ele sentou-se despojadamente sobre as pedras de gelo estendendo as pernas. Ele sabia que Hades poderia pulveriza-lo, só não ligava para isso. Sua existência já tinha valido a pena... Se bem que ele ainda tinha alguém para com o qual se vingar. Ele pensou em todas suas ações e selecionou a ultima da lista como a história á ser contada.
- Bem, meu senhor, me deve uma por um de meus recentes atos no mundo dos vivos. Deve ter notado a ausência da essência de uma certa, ahn, deusa petulante... Bem, supostamente eu meio que... Sabe como é... As coisas acontecem... Eu empalei ela com uma lança enferrujada qualquer na frente de um bando de marmanjos... Infelizmente um deles meio que... Bem... - fez um rápido movimento em linha com o dedo na altura do pescoço. - Eu sei, eu sei. Não é nada interessante. Coisas que você faz no fim de semana sem problemas. Mas posso servir como um ótimo, ahn, mata mosquitos, assim por dizer, para vossa senhoria. Ou como tapete do Salão de Julgamento.

Ser elevado por um enorme gêiser não é algo muito legal. Mas foi divertido. Enquanto a água quente fervia em sua pele utilizou da superfície pressurizada de água para lançar-se para o chão com um mortal duplo estava ajoelhado aos pés do deus de cabeça abaixada.
- Ora, por muito simples. - o rapaz sussurrou friamente demonstrando toda sua apatia pela deusa da sabedoria. - Ainda tenho assuntos á tratar com o Santuário... Quero cuidar para que cada miserável cavaleiro de ouro sofra aquilo que merece... Não quero sua misericórdia. Não preciso dela... Mas eles também não terão a minha. Athena era tola demais... Onde existe luz também haverá trevas. Na busca pela paz sempre haverá guerra... E essa tola deusa, não entende isso. Respeito seus ideias milorde... Á seu serviço lutarei até que os Doze de ouro caiam. E então... O senhor poderá me matar com suas próprias mãos caso pense que sou um fardo ou que sou um mero traidor. A escolha será sua.

Agora que sabia que o animal não era tão pesado apesar do enorme tamanho, tornava-se fácil derrotá-lo. Assim que ele notou a movimentação da enorme besta, atirou a pobre alma que capturara para a cabeça mais próxima. Cérbero despedaçou o infeliz com grasnados alegres. Uma das cabeças farejou o ar. Algo estava errado, na conclave na qual eu havia me escondido, se encontrava o outro rapaz que fora vertido por Hades. O animal virou-se naquela direção e á saltos rápidos começou á escalar a geleira. Albiron deu de ombros... Era sempre bom ter alguém que deve sua vida após a morte á você. E foi até o animal. Saltou pela geleira velozmente até estar ao lado de Cérbero que se encontrava focado no outro. Girou o próprio corpo para tentar um golpe, ele já havia acertado uma voadora no animal, um chute giratório não era nada demais. Mas caso errasse poderia sair sem uma perna ou sem coisas que poderia usar futuramente... Como a cabeça.
- This is being fun...

As chamas foram uma surpresa. De início doeu um pouco... Ok. Doeu muito. Mas logo ele se acostumou. As chamas queimavam sim... Mas ele não dava importância. Como se as chamas não fossem realmente perigosas. Com seu corpo derretendo ele deu um sorriso e riu insanamente. Focou o olhar, apesar de ter certeza que seus olhos haviam sumido, no senhor do Inferno e se esforçou para mover o que restara de sua existência em uma pose de cortesia, dando um aceno ao senhor, uma mesura formal quase impossível na dor interminável... E em seguida se ajoelhou ainda rindo. Parou de rir e tentou forjar um sorriso apesar de não ter certeza se conseguira. Logo se sentia mais sólido e vivo.
- É uma honra servir sua nobre existência eterna milorde... - ele se levantou e olhou para o que vestia. - Agradeço pela roupa nova!
Se sentia mais poderoso... Diferente. Com a mente limpa e com os pensamentos no lugar. Mas ainda havia aquela forte chama da loucura em suas veias... Ainda era ele mesmo.